Ação Summit
sexta, 01 de novembro de 2024
Ricardo Amorim: “Os próximos dias serão vitais para o Brasil, o Governo precisa agir e aplicar uma reforma fiscal vigorosa”
A presença de Ricardo Amorim no Ação Summit realizado pela Associação Empresarial de Pato Branco permitiu que o público de mais de mil pessoas tivesse um panorama do Brasil e as perspectivas para o país nos próximos anos. Amorim, que é considerado uma das 100 personalidades mais influentes do Brasil deus boas e más notícias. As boas são de que o país segue velejando bem aproveitando os ventos da economia mundial, que neste momento o favorecem. As más, e talvez a principal, seja a de que o futuro está nas mãos das decisões do Governo nos próximos dias. Estas decisões serão vitais para que o Brasil continue surfando na crista da onda, e a maior delas, fundamental, é a aplicação da reforma fiscal, mas uma reforma profunda, que assegure a redução dos gastos públicos, sem ela, o país desaba. Durante coletiva a jornalistas de Pato Branco, abordou pontos importantes, que transcrevemos na íntegra utilizando o estilo ping pong para você não perder nenhum tópico da entrevista. Mantemos inclusive os créditos das perguntas dos jornalistas presentes na coletiva Ação Summit 2024.
Claudemir Zanco(Biruba) Ativa Fm: O que teremos nesta noite em relação a economia brasileira?
Ricardo Amorim: Em relação ao Brasil, quero demonstrar que estaremos vivendo nas próximas duas ou três semanas momentos determinantes. Há quatro anos a economia brasileira vem crescendo bem mais que as pessoas ‘acham’ que ela crescer, mas isso está em risco. Explico: Preocupações com a política fiscal brasileira tem feito com que o dólar suba muito. Quando o dólar sobe os produtos importados ficam mais caros, inflação e taxa de juros sobem, o crédito diminui e a consequência é menos consumo, menos investimento, menos emprego. O risco de reversão deste quadro positivo é grande caso o governo não aja com rigor. Para continuar o círculo virtuoso de nossa economia, o governo precisa deixar claro que vai ter um plano fiscal crível, com um corte de gastos que deve ser de pelo menos meio por cento do PIB brasileiro, que representa R$ 60 bilhões em média. Se isto acontecer vamos continuar crescendo, senão vamos jogar fora um bilhete premiado da loteria econômica que está em nossas mãos.
Betto Rossatti TV Sudoeste/JPB: O Paraná divulgou a criação de 22 mil empregos com carteira assinada no último relatório, Pato Branco tem em média entre 300 e 400 ofertas diárias de vagas de trabalho formal, como isto acontece? Este ciclo está em risco?
Ricardo Amorim: Não a curtíssimo prazo. Mas vamos colocar em perspectiva, este será o terceiro ano consecutivo que o Brasil, no grupo do G20, é o país que mais cria empregos formais. O Paraná vai melhor que o Brasil, por vários fatores, pela gestão pública, pelo agronegócio, por várias razões o Paraná cresce mais que a média nacional. O mesmo ocorre com Pato Branco, que apresenta bons índices de desenvolvimento econômico. Temos uma cidade e região que tem o agro, tecnológico, saúde, educacional forte, não surpreende que o município tenha bons índices de crescimento. Qual o risco estamos correndo? São dois fatores, primeiro a expansão de renda e emprego. Logo depois da pandemia o Brasil perdeu dez milhões de empregos, mas recuperou os dez e criou mais dez milhões. Temos 20 milhões de pessoas a mais, empregadas do que há quatro anos. Para completar a renda real destas pessoas, isto os salários, são mais altos, melhorando o poder aquisitivo. Ajudando temos a taxa de juros que caiu significativamente, com expansão do crédito que gera o consumo. Os empregos tendem a continuar, mas o crédito, se o governo agir, vamos ter uma reversão drástica deste quadro. A taxa de juros subiria no país num cenário de grande desvalorização da moeda. A cada dez por cento de desvalorização da moeda, temos um ponto a mais na inflação, 1,5 pontos na taxa Selic, é ai que está o risco. Sem ajuste fiscal o dólar passa a barreira dos R$ 6,00, o que colocaria em risco este ciclo.
Betto Rossatti TV Sudoeste/JPB: O senhor acredita que estamos caminhando na direção do governo adotar as medidas necessárias?
Ricardo Amorim: Eu acredito que sim, mas minha convicção é baixa. Porque acredito que sim? Porque o Ministério da Economia Fernando Haddad, tem sinalizado nesta direção. Porque minha convicção é baixa? Porque quem toma a decisão não é ele, é o Presidente Lula, que por sua vez, já deu várias declarações de que não está convencido de que tem que fazer o ajuste fiscal. Espero que ele seja convencido para o bem do Brasil, e para ele mesmo, porque se o Brasil for mal seu governo vai mal.
Betto Rossatti TV Sudoeste/JPB: Ainda sobre a oferta positiva de empregos no mercado de trabalho, a que o senhor atribui a oferta de vagas no contraponto da falta de mão de obra, as empresas têm grandes dificuldade em contratar neste momento?
Ricardo Amorim: Uma soma de fatores, o primeiro a legislação trabalhista inflexível. Muita gente não quer estar no mercado na forma como está, gostaria de poder negociar livremente seu contrato, horários e outros termos que a legislação não permite, engessando em seis ou oito horas diárias. Outra questão é a falta de qualificação, tem emprego mas não tem gente capacitada porque nossa educação é ruim. E por fim mas não menos importante é que o governo desestimula muita gente a trabalhar. A pessoa olha para o Bolsa Familia e diz, ficando em casa ganho este tanto, para trabalhar este e mais um pouquinho, não compensa, vou ficar em casa. Não sou contra os programas sociais, sou contra é que eles tenham porta de entrada e não tenham porta de saída. Hoje temos 50 milhões de brasileiros em programas sociais como o Bolsa Família, esta situação ficará insustentável em breve. Em doze estados brasileiros tem mais gente recebendo benefícios do que gente trabalhando, isso não vai dar certo, e precisa ser repensado.
Betto Rossatti TV Sudoeste/ JPB: O Brasil é uma bomba relógio?
Ricardo Amorim: Temos várias bombas, a principal delas é a Previdência. Por uma razão muito simples, estamos vivendo mais, o que é ótimo, e as famílias estão tendo menos filhos. Na época dos nossos avós o padrão eram oito filhos, hoje quando uma família tem dois, já se diz que é muito. O mercado de trabalho tem nova configuração, que vai piorar nos próximos anos, as reformas até agora foram paliativas, e se isso não acontecer a economia afunda, não tem outro caminho. Outra bomba, como exemplo é o funcionalismo público. O dinheiro do tesouro nacional nestas duas fatias do bolo, a previdência e o funcionalismo tem que ser revistos, senão o Brasil terá sérios problemas não tendo dinheiro para mais nada.
Marcilei Rossi Conecta: A eleição nos EUA implica em que reflexos no Brasil?
Ricardo Amorim: Devemos observar se a decisão da eleição nos EUA será rápida, ganhe um ou outro. Vitória de Tramp e Camela tem diferenças claro, mas o resultado de uma eleição contestada lá, deixam o país no limbo, e isso não será bom para ninguém. Um estado relevante como eles implica em reflexos na geopolítica mundial.
Claudemir Zanco (Biruba) Ativa FM: E a reforma tributária, que saiu da pauta nacional?
Ricardo Amorim: Excelente pergunta. A reforma tem ganhadores e perdedores. O grande ganhador será o setor industrial, prejudicado pelo sistema atual. A indústria vai deixar de recolher R$ 500 bilhões por ano, ao longo do período de implantação. Mas se alguém vai pagar menos, alguém vai pagar mais. E os setores do agro, comércio e principalmente os serviços, pagarão mais. Serviços é um setor que responde por sete a cada dez empregos no Brasil, então vamos ter que alinhar estes novos custos em cada um dos setores envolvidos. E uma reforma que tem méritos, mas grandes problemas que não precisariam ter, alinhando-se a reforma fiscal e administrativa por exemplo.
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