EDUCAÇÃO, PODER E CENÁRIOS: estamos construindo uma sociedade produtiva ou anestesiada?
sexta, 12 de dezembro de 2025
CACIOPAR
Antes de qualquer crítica estrutural, é preciso reconhecer um mérito inegável: a educação que antecede a universidade, da educação infantil ao ensino médio, tem realizado esforços notáveis de inclusão, acolhimento e desenvolvimento humano. Professores dedicados, diretores que lutam contra a burocracia, equipes pedagógicas que fazem milagres com poucos recursos e famílias que se envolvem como podem, formam o tripé que sustenta a esperança educacional do Oeste do Paraná. Essa base, apesar de todas as pressões externas, ainda entrega avanços significativos: amplia o acesso, reduz desigualdades, nutre vínculos e, em muitos casos, transforma trajetórias pessoais. É dessa dedicação silenciosa que ainda brotam talentos, mesmo quando o sistema, por vezes, tenta moldá-los antes de libertá-los. O reconhecimento é necessário, até porque, sem essa etapa formativa, a própria discussão sobre desenvolvimento socioeconômico seria inviável. Por que uma região tão pujante quanto o Oeste do Paraná, movida pela força empreendedora que ergue cooperativas, indústrias, universidades e negócios familiares, aceitaria, sem resistência, que a educação, base civilizatória da racionalidade e da criatividade, seja gradualmente capturada por narrativas que a distanciam de sua função original de produzir riqueza, autonomia e pensamento crítico? A pergunta não é retórica. Ela é o ponto de partida para entender como projetos de nação, muitas vezes invisíveis ao cidadão comum, se articulam pela via mais silenciosa e mais estratégica já identificada na história política: a educação como instrumento de poder. Desde Maquiavel Pedagogo, de Pascal Bernardin, compreendemos que a educação pode ser desvirtuada, e, ser moldada não para libertar, mas para domesticar. Pode servir não para expandir a capacidade cognitiva individual, mas para alinhar comportamentos com projetos ideológicos que nada têm a ver com produtividade, inovação ou desenvolvimento regional. E é justamente aqui que reside o desafio do nosso tempo: como garantir que a educação da região Oeste continue sendo uma fonte geradora de riqueza e não um mecanismo de nivelamento por baixo, que entrega à sociedade apenas o mínimo cognitivo para operar, mas nunca o suficiente para questionar?
Quando a lógica é abandonada, qualquer narrativa prevalece
As sociedades não colapsam repentinamente. Elas vão cedendo, pouco a pouco, em sua capacidade crítica. A Janela de Overton, esse mecanismo de deslocamento progressivo do aceitável, não move apenas costumes e moralidades. Ela reconfigura a tolerância das pessoas ao absurdo. É assim que se normaliza, por exemplo: a discrepância jurídica, onde decisões interpretativas suplantam o texto constitucional; a autopromoção de líderes institucionais, que usam estruturas públicas como vitrines pessoais; o desmonte silencioso das condições que sustentam a racionalidade, como a qualidade da educação básica e a meritocracia acadêmica; a exaltação da mediocridade, travestida de inclusão, mas que, na prática, impede a ascensão de talentos que poderiam enriquecer a sociedade.
Quando a população perde a capacidade de reagir a inconsistências óbvias, a anestesia social está instalada. E uma população anestesiada não cobra resultados, não entende estratégia, não visualiza cenários, não formula perguntas incômodas, apenas consome narrativas prontas.
O Oeste do Paraná e o risco da mediocridade organizada
A região Oeste sempre prosperou porque nunca foi mediana. Cooperativas que se tornaram sucesso gigantesco, agricultores visionários, empresários incansáveis, universidades produtivas em pesquisa e uma cultura de trabalho sólida construíram um ambiente de geração de riqueza que se tornou referência nacional. Mas nenhuma região está imune ao declínio quando a educação deixa de formar mentes capazes de sustentar esse ciclo virtuoso. Quando as escolas são capturadas por debates ideológicos que sequestram o tempo didático, quando universidades abandonam seu papel de produzir conhecimento profundo e passam a disputar lacunas políticas, quando gestores públicos tratam a educação como palco e não como projeto, o capital humano se deteriora, e com ele, a produtividade, a inovação e o empreendedorismo. E, sem empreendedorismo, não há estratégia. Sem estratégia, não há cenários possíveis de prosperidade. Sem cenários, uma região deixa de projetar o futuro e passa a apenas absorver passivamente o que o mundo lhe impõe. Educação que fortalece, gera riqueza; educação que apenas disciplina, gera um bom cidadão, mas cheio de dependência. Se a educação forma pessoas capazes de interpretar, modelar, decidir e empreender, o ciclo da prosperidade se renova. Mas se a educação é usada para criar dependentes intelectuais, indivíduos sem autonomia para duvidar, mensurar, argumentar e comparar, então a economia local passa a depender de poucos dirigentes e muitos seguidores, poucos criadores e muitos consumidores, poucos inovadores e muitos replicadores. Esse modelo atende a quem? Certamente não ao desenvolvimento socioeconômico do Oeste, principalmente, em tempos de aceleração da inovação tecnológica. Ele serve a projetos de poder que precisam reduzir a capacidade crítica da população para ampliar sua própria influência. Afinal, sociedades criativas questionam; sociedades dóceis obedecem.
O papel das instituições: promover desenvolvimento ou autopromoção?
Quando líderes institucionais tratam o espaço público como extensão de suas biografias, a educação deixa de ser política pública e passa a ser curadoria de imagem. Gasta-se onde aparece, corta-se onde é essencial. Premia-se a narrativa, esvazia-se a competência. E o resultado é devastador: estudantes que não conseguem escrever com clareza chegam ao nível superior; profissionais que não interpretam relatórios básicos são analfabetos funcionais; empreendedores que não conseguem inovar porque falta mão de obra qualificada; universidades pressionadas a produzir volume de pesquisa e não profundidade; e uma crescente dependência de políticas públicas que nunca resolvem o problema estrutural, a falta de racionalidade como ativo competitivo. Há desconexão entre discurso e entrega: no Oeste, onde o setor produtivo opera em altíssima performance, a educação deveria estar na vanguarda intelectual para sustentar esse ecossistema. Mas não raramente vemos: burocracias que travam iniciativas educacionais inovadoras; disputas políticas que paralisam decisões fundamentais; cursos que exigem cada vez menos capacidade em lidar com complexidade decisorial. Ambientes acadêmicos tomados por discussões irrelevantes que não produzem valor ao empreendedorismo, deveriam estar entendendo as variáveis críticas para moldarem o cenário favorável com a alocação de recursos de forma correta.
Vamos a um exercício de cenários:
Cenário 1: continuidade da anestesia educacional. A produtividade estagna, o capital humano se deteriora, empresas começam a importar talentos, a inovação migra para polos mais agressivos e o Oeste do Paraná perde competitividade nacional.
Cenário 2: recuperação da racionalidade educacional. A região consolida um dos mais robustos ecossistemas de empreendedorismo do Brasil, com jovens tecnicamente preparados, estrategistas capazes de modelar cenários complexos e empresas mais inovadoras.
Cenário 3: polarização irreversível. Universidades e escolas tornam-se territórios ideológicos. O setor produtivo se desconecta da educação, criando seus próprios centros formativos privados, e o sistema público perde relevância e qualidade. Outros órgãos passam a entender que podem se sobrepor ao ensino superior.
A escolha do caminho não é aleatória. Ela depende da coragem coletiva para exigir que a educação volte a ser educação, espelhada em exemplos de sociedades que geraram riqueza e não engenharia comportamental para pavimentar um campo para a maioria ficar de joelhos pela espiral do silêncio, enquanto uma minoria empurra a semântica para trocar o sentido das palavras, até que tudo que distorce conceitos básicos de uma sociedade, seja desorganizado, em prol de uma concentração de poder que espera, democraticamente, que a sociedade peça por um tirano, que venha, finalmente, fechar as portas da liberdade criativa, tecnológica e intelectual, aplicadas aos negócios.
O paradoxo final: O esforço humano, financeiro e institucional empregado na educação do Oeste é gigantesco, admirável e, em muitos casos, hercúleo. Quando comparada ao restante do Brasil, nossa região apresenta indicadores muito superiores, resultados expressivos e uma capacidade organizacional rara. Contudo, quando elevamos a régua e nos comparamos às nações que transformaram educação em inovação, inovação em estratégia e estratégia em geração de riqueza, como Finlândia, Coreia do Sul, Singapura e Israel, percebemos o tamanho do desperdício. Desperdício de recursos, sim, mas sobretudo desperdício de inteligência. Criamos estruturas robustas, mas com mira propositalmente fraca. Investimos muito em cargos, mas planejamos pouco sobre os resultados. Produzimos acesso, mas não produzimos excelência coletiva. E uma região que poderia liderar o Brasil em produtividade e inovação corre o risco de se satisfazer com resultados bons, quando poderia, e merece, ser excepcional, como um exemplo ao mundo.
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